A parceria entre o Aruá Observação de Vida Silvestre, que há 6 anos promove a proteção de um importante corredor de Mata Atlântica no norte da Bahia, e o Laboratório de Ecologia Aplicada à Conservação da Universidade Estadual de Santa Cruz (LEAC-UESC), liderado pelo Prof. Dr. Gaston Giné, já rendeu a instalação de 12 pontes de travessias em áreas críticas da Floresta do Aruá. “Esta floresta está inserida no loteamento Quintas do Castelo, uma área que depois da pandemia teve um grande avanço da especulação imobiliária. É um fragmento de mais de 900 hectares que tem o papel de unir outras duas grandes florestas, o Refúgio de Vida Silvestre da Sapiranga, com 775 hectares, e a Reserva Camurujipe/Covão, de cerca de 3.300 hectares, formando assim o maior corredor de Mata Atlântica do norte da Bahia” — Luciana Veríssimo, bióloga responsável pelos projetos ambientais do Aruá. Inspiradas nas metodologias utilizadas pela Sloth Conservation Foundation na Costa Rica, essas pontes de cordas simples visam conectar fragmentos de floresta e reduzir os riscos associados à urbanização. Preguiça-de-coleira registrada pelo Projeto Conecta-Vidas — Foto: Cosme Guimarães Até agora, câmeras instaladas nas pontes registraram 75 travessias de quatro espécies diferentes, incluindo o ameaçado ouriço-preto. Apesar de as preguiças ainda estarem se adaptando, dois registros informais de travessias foram confirmados por moradores locais. “As câmeras e pontes foram escolhidas nas áreas de fragmentação florestal e onde nós, com a experiência de campo que temos, sabemos que são locais de passagem ou alimentação”, explica Luciana. Atualmente, o projeto não tem recursos financeiros fixos. Tudo é financiado por doações de vizinhos, hóspedes ou pelas diárias dos pesquisadores quando eles visitam a área. O custo de cada ponte, incluindo a armadilha fotográfica, é de cerca de R$ 1.300. “Enquanto os pesquisadores estão fora, nós, do Aruá, continuamos o monitoramento do projeto dedicando nosso tempo e trabalho”, completa a bióloga. Equipe do Projeto Conecta-Vidas em campo — Foto: Cosme Guimarães Segundo Luciana, a ideia é conseguir fundos para instalar pelo menos 50 pontos de travessia, cobrindo uma área maior de amostragem na área de floresta e expandindo o estudo para dentro de grandes empreendimentos em implantação na região. Impactos da urbanização e ações em curso A rápida urbanização da região tem imposto sérios desafios à fauna local. A construção de condomínios, loteamentos e infraestruturas lineares tem fragmentado o habitat natural das preguiças, resultando em eletrocussões, atropelamentos e invasões em áreas urbanas. Em 2023, o LEAC-UESC documentou que a preguiça-de-coleira-do-nordeste desaparece de áreas com menos de 30% de cobertura florestal. Dados de ciência-cidadã revelaram 9 casos de eletrocussão e 2 atropelamentos de preguiças, além de 15 casos de travessias perigosas e 5 incidentes envolvendo estruturas residenciais. Espécie: Tangará-príncipe — Foto: Cosme Guimarães Para enfrentar esses desafios, o Projeto Conecta-Vidas está implementando medidas de monitoramento avançadas. Recentemente, foram anexadas mochilas GPS a 12 preguiças para estudar seu comportamento e o impacto das barreiras urbanas. O projeto tem promovido também uma série de atividades educacionais, incluindo palestras e sessões de cinema, para aumentar a conscientização e o engajamento da comunidade local. Na semana de 5 a 11 de agosto de 2024, uma nova expedição trouxe importantes atualizações, com a participação do Ministério Público, órgãos ambientais e conselheiros da APA do Litoral Norte. As atividades envolveram a instalação de mochilas GPS e a realização de eventos educativos em 10 comunidades. Nos próximos dias, novas pontes e armadilhas fotográficas serão instaladas em pontos estratégicos da floresta. Ciência cidadã: o poder da comunidade local Espécie: Tangará-rajado — Foto: Cosme Guimarães O envolvimento da comunidade tem sido crucial para o sucesso do projeto. Com 130 cidadãos participando ativamente da ciência-cidadã, a coleta de dados sobre ameaças e a intervenção em situações de risco foram significativamente aprimoradas. A colaboração local não apenas ajuda na gestão da população de preguiças, mas também promove a educação e a conscientização sobre a importância da conservação. “Temos a proposta de investir no turismo científico, permitindo que visitantes se tornem ‘cientistas por um dia’, contribuindo para o monitoramento das preguiças e o avanço do conhecimento sobre sua ecologia”, destaca Luciana Veríssimo. Com essas ações inovadoras e a participação ativa da comunidade, o Projeto Conecta-Vidas está pavimentando o caminho para um futuro mais seguro para as preguiças-de-coleira-do-nordeste e o ouriço-preto, preservando a rica biodiversidade da Mata Atlântica e mostrando como a colaboração entre ciência e comunidade pode fazer a diferença. VÍDEOS: Destaques Terra da Gente
Projeto de conservação protege preguiça-de-coleira e ouriço-preto na Mata Atlântica da Bahia
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