Entrevista com dom Edson Oriolo, bispo da Igreja particular de Leopoldina (MG). Vatican News O Conselho Episcopal Latino-americano e Caribenho (CELAM) criou um grupo de trabalho dedicado a aprofundar estudos e reflexões sobre a inteligência artificial, considerando suas abordagens científica, técnica e pastoral. O primeiro encontro presencial deste grupo realizou-se em Cidade do México, no último dia 24 de agosto. Dom Edson Oriolo integrou este grupo de trabalho e nesta entrevista ele compartilha algumas das reflexões iniciais sobre as diversas implicações da inteligência artificial para a sociedade, os seres humanos e a Igreja. Dom Oriolo Dom Edson Oriolo, os bispos da América Latina e do Caribe estão preocupados com os avanços da inteligência artificial, devido à multiplicidade de implicações na sociedade e querer uma visão séria e objetiva que permitam ter uma opinião bem fundamentada sobre essa realidade. Qual a papel dessa equipe que o senhor está participando? O principal objetivo da formação do grupo de estudiosos do IACELAM, composto por pessoas especialistas de diversos países da América Latina e do Caribe foi apresentado na primeira reunião online. Nessa ocasião, reforçou-se a importância de oferecer ao Povo de Deus análises independentes, abrangentes e imparciais sobre os impactos social, econômico, cultural, político, ético e teológico das transformações globais, com um olhar particular para a América Latina e o Caribe. O objetivo é contribuir para a tomada de decisões pastorais mais concisa sobre a inteligência artificial. O grupo busca promover um diálogo profundo sobre as rápidas transformações da realidade contemporânea e seus impactos na vida das pessoas. A inteligência artificial (IA) emerge como uma ferramenta poderosa que molda o comportamento humano. Diante disso, somos chamados a utilizar a IA de forma responsável e ética, buscando sempre o bem comum. A IA, embora seja uma ferramenta, não é neutra e exige de nós uma postura proativa e crítica. Assim sendo, necessitamos de paradigmas para saber usufruir dessa ferramenta e garantir que ela seja utilizada de forma responsável valorizando os princípios éticos e cristãos. Na sua opinião, como a Igreja da América Latina e do Caribe concilia a rápida evolução da Inteligência Artificial com os princípios éticos e valores cristãos? A rápida evolução da inteligência artificial tem suscitado discussões profundas sobre o impacto em diversos aspectos da sociedade, incluindo a religião. Os cristãos são chamados a usar a inteligência artificial de forma responsável e ética, buscando o bem comum. É importante buscar um equilíbrio entre os benefícios e os avanços da inteligência artificial e as questões éticas envolvidas. O termo ‘artificial” revela os limites dessa inteligência, não que seja um mal, mas por depender de mecanismos construídos pelo ser humano e controlados por alguns, segundo interesses econômicos. O aspecto de desenvolvimento humano, não está em primeiro lugar. A dependência excessiva da inteligência artificial pode levar à redução da criatividade, inventividade, capacidade crítica, e até mesmo da inteligência em si, devido ao desuso de estruturas cerebrais fundamentais à condição humana como hipocampo, córtex e sistema límbico. A inteligência humana deve atuar e ser parceira da inteligência artificial na definição de regras morais e éticas, oferecendo suporte regulatório e sistemas que permitam à sociedade usufruir dessas tecnologias de forma a promover o crescimento e a dignidade humana. Ela não faz juízo de valores nem estabelece hierarquia do mais e do menos importantes, a não ser que isso já conste nos dados por ela utilizados. Em última análise, a colaboração entre a inteligência humana e a inteligência artificial deve ser mútua, beneficiando a evolução de ambas. Dom Oriolo, o senhor tem ajudado ação evangelizadora da Igreja no Brasil com seus artigos, ensaios e até uma obra ˜Evangelização Online”. A inteligência artificial faz parte do cotidiano das pessoas?. Por quem ela é gerenciada? Quando se fala em IA, podemos pensar que essa tecnologia surgiu do nada. Ela é fruto da criatividade do homem, que pode usá-la para o bem ou para o mal. Basta recordar a tradição javista da criação do homem e da mulher, à imagem e semelhança de Deus (cf. Gn 1,26-27). Essa passagem é fundamental para a compreensão do valor e da dignidade intrínsecos as ser humano, na teologia judaico-cristã. Podemos afirmar que o maior responsável pela IA é o agente racional inteligente, o ser humano criado à imagem e semelhança de Deus, capaz de fazer as coisas certas, no momento e lugar certos. Ele tem a vocação e a missão de se desenvolver como humano, como ser inteligente. Para que a IA possa realizar uma tarefa inteligente, seja ela simples ou complexa, depende das habilidades próximas do cérebro humano. Assim, percebemos como a tecnologia continuará beneficiando a sociedade de maneira positiva. Assim podemos perceber e olhar a inteligência artificial sendo algo benéfico para as pessoas? A IA é uma colaboração benéfica, sim! Nada de fobia em relação ao seus usos! Ela é muito parecida com a inteligência humana. Moldando a inteligência humana, está impactando nossa língua e afetando nossas vidas. É uma ferramenta poderosa para usarmos de maneira produtiva. Os aplicativos proporcionam vida melhor. Mas é bom lembrar que a IA só interage quando provocada, sob o comando do ser humano. Recentemente, a IA j[a pode ajudar a resolver problemas complexos da vida humana e fazer história no mundo. Em muitas áreas, a IA tem se mostrado muito benéfica. As máquinas estão ajudando as pessoas a viverem melhor e melhorando a produção em todos os setores. O que talvez pode acontecer é que os humanos gerenciam mal essa tecnologia e que a IA comece a mandar e desmandar em nós. A IA garante soluções seguras, confiáveis e imparciais, mas sempre centradas no ser humano. Para finalizar! O senhor tem muitas literaturas sobre gestão eclesial, administração dos bens da Igreja. Podemos falar de inteligência artificial na transparência da economia nas dioceses, paroquias e comunidades eclesiais missionarias? A diocese de Leopoldina, por meio de sua equipe de contabilidade, tem buscado promover a transparência na gestão financeira das paróquias. As visitas realizadas às paróquias para verificar a contabilidade, os lançamentos, os investimentos e outros dados financeiros são um passo importante nesse sentido. No entanto, a realização manual desses processos limita a eficiência, a eficácia, a excelência e a precisão da gestão financeira. A inteligência artificial surge como uma solução inovadora para superar esses desafios, automatizando a geração de relatórios, realizando previsões financeiras e otimizando os recursos. Com a IA, os facilitadores (bispos, padres, ecônomos) terão à disposição um painel completo e atualizado da situação financeira de cada paróquia, permitindo uma tomada de decisão mais estratégica e transparente. A inteligência artificial revolucionará a gestão financeira das comunidades eclesiais, paroquiais e dioceses, proporcionando maior transparência e eficácia. Com a IA, os fiéis poderão acompanhar em tempo real as suas contribuições e os destinos delas, garantindo que sejam utilizadas de forma responsável e alinhada com os princípios da Igreja. Através de sistemas de controle automatizados, a IA também ajudará a prevenir desvios e a otimizar a utilização dos recursos, permitindo que os recursos sejam focos para evangelização, as celebrações e ajuda aos mais necessitados. Fonte: Diocese de Leopoldina Obrigado por ter lido este artigo. Se quiser se manter atualizado, assine a nossa newsletter clicando aqui e se inscreva no nosso canal do WhatsApp acessando aqui
A IA e a ação evangelizadora: perspectivas de dom Edson Oriolo
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