Gatos podem ser excelentes modelos para o estudo das origens e tratamento da obesidade em humanos, sugere uma pesquisa da Universidade Estadual de Ohio, nos EUA, publicada na revista Scientific Reports. Veterinários analisaram amostras fecais de gatos obesos à medida que os animais perdiam e mantinham o peso ao longo de quatro mudanças na dieta, incluindo redução rigorosa de calorias. Os pesquisadores descobriram que as mudanças relacionadas à alimentação no microbioma intestinal dos felinos —a variedade de bactérias e de moléculas que essas bactérias produzem e consomem— têm semelhanças importantes com os efeitos das dietas no intestino de humanos. Embora ainda haja muito a aprender, as descobertas colocam os bichanos no topo da lista de animais cujas bactérias intestinais podem nos dizer muito sobre as nossas próprias bactérias —e se a terapia baseada em micróbios intestinais, usada em transplantes fecais, poderia ser uma maneira de combater a obesidade. “Os animais compartilham nossas camas. Eles compartilham nosso sorvete. Há todas essas coisas que as pessoas fazem com seus animais de estimação que mostram que eles são um modelo de doença natural com exposições ambientais semelhantes às dos humanos”, diz a autora principal do estudo, Jenessa Winston, professora assistente de ciências clínicas veterinárias na Universidade Estadual de Ohio, na publicação da Scientific Reports. “Poder ver mudanças em gatos que surgem no contexto da obesidade e de diabetes tipo 2 em pessoas os tornam um modelo realmente bom para começar a olhar para terapêuticas mais direcionadas ao microbioma para a obesidade em humanos se estivermos vendo uma mudança semelhante”, afirma Winston. “Os micróbios que vimos neste estudo também aparecem repetidamente em estudos humanos —e claramente, as pessoas não estão comendo ração de gato, certo?” Estima-se que 60% dos gatos sejam obesos ou com sobrepeso em países desenvolvidos, e mais de 2 em cada 5 adultos nos Estados Unidos têm obesidade, de acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças, nos EUA. Na Universidade Estadual de Ohio, Winston supervisiona dois grandes ensaios clínicos explorando o potencial de transplantes fecais de cães e gatos magros para ajudar animais da mesma espécie com sobrepeso a perder peso. No estudo, pesquisadores alimentaram sete gatos obesos com uma dieta de quatro fases ao longo de 16 semanas: alimentação livre de ração comercial para gatos por duas semanas, alimentação livre de uma dieta formulada especialmente para perda de peso por uma semana, alimentação com restrição calórica para emagrecimento para atingir uma redução de peso corporal de 1-2% por semana por 11 semanas, e retorno à dieta de manutenção original. A análise das amostras fecais coletadas durante as diferentes fases da dieta focou mudanças na presença de metabólitos de ácidos graxos de cadeia curta, moléculas produzidas por bactérias durante a digestão. Os ácidos graxos são de interesse porque estimulam tipos específicos de comunicação entre os micróbios intestinais e os tecidos do resto do corpo —incluindo sinais hormonais que podem estar relacionados à inflamação e resistência à insulina. A equipe descobriu que a abundância de um ácido graxo de cadeia curta chamado ácido propiônico —visto em outros mamíferos para regular o apetite, reduzir a acumulação de gordura e proteger contra a obesidade e diabetes— aumentou nas fezes quando os gatos estavam perdendo peso na dieta com restrição calórica. Uma maior composição de ácido propiônico foi associada a um aumento na bactéria Prevotella copri. Embora a produção direta de ácido propiônico por Prevotella não pudesse ser determinada neste estudo, a descoberta de que esses aumentos ocorreram ao mesmo tempo, quando os gatos estavam perdendo peso, foi intrigante. Pesquisas anteriores ligaram a Prevotella copri no intestino humano à perda de peso e melhor controle do açúcar no sangue. “Quando os gatos estão na dieta especial formulada para perda de peso, o ácido propiônico aumenta e permanece alto, e depois diminui quando são colocados de volta na dieta de manutenção. Então realmente é uma mudança dietética”, observa Winston. O papel preciso do microbioma intestinal na obesidade de mamíferos ainda é um mistério, mas Winston disse que décadas de evidências sugerem que esses organismos e as moléculas que produzem fazem parte do problema por trás do que agora sabe-se ser uma doença muito complexa. As descobertas deste estudo em felinos sugerem que o perfil intestinal do gato poderia fornecer respostas significativas para ambas as espécies. A dieta de perda de peso no estudo foi fornecida pela Nestlé Purina, que também financiou o projeto. Winston e alguns coautores são palestrantes remunerados da Nestlé Purina. Siga o blog Gatices no Twitter, Instagram e Facebook. LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.
O que gatos gordos que fazem dieta podem nos ensinar sobre a obesidade em humanos
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