“Fatalmente, a fauna e a flora já estão totalmente comprometidas. Infelizmente, o ciclo desses animais já foi comprometido por alguns anos. Existe uma fauna aquática que vai além dos peixes. Os organismos aquáticos dependem do oxigênio dissolvido na água”, disse o pesquisador. O professor explica que, além dos peixes, há animais microscópicos, microcrustáceos e crustáceos que já foram impactados pela tragédia ambiental. “Todos que respiram por brânquias são afetados. A questão é que muitos deles são microscópicos”, aponta. As aves também sofrerão com os reflexos da mortandade dos peixes devido à alteração do regime de disponibilidade de alimentos. Segundo informações do Ministério Público, a estimativa preliminar é que cerca de 20 toneladas de peixes tenham morrido no Tanquã. “As aves migratórias chegam a essa região para se alimentar, vão se reproduzindo, se acasalando. Uma área alagada como a do Tanquã tem muito fertilizante natural e, assim, alimento. Isso atrai as aves para essa região”, pontua o professor. Brunno da Silva Cerozzi é professor de piscicultura do Departamento de Zootecnia da Esalq em Piracicaba — Foto: Edijan Del Santo/EPTV Pescadores Com o flagrante de uma nova mortandade de centenas peixes após o despejo irregular de poluentes agroindustriais de uma usina de açúcar e álcool no Rio Piracicaba, trabalhadores que dependem da pesca para a própria sobrevivência estão com os barcos parados e lamentam pela situação. Cerca de 50 pescadores vivem com suas famílias na região -👉 Veja imagens, aqui. Na área de proteção ambiental Tanquã, na região de Piracicaba (SP), conhecida como minipantanal paulista, os canais – antes alagados – estão tomados de animais boiando sem vida pelas encostas nesta terça-feira (16). O Ministério Público investiga o caso – 👆Assista no vídeo, abaixo. Peixes mortos no Rio Piracicaba passam a se acumular em área de proteção ambiental Os poluentes agroindustriais lançados no Rio Piracicaba irregularmente por uma usina de açúcar e álcool provocaram nova mortandade de peixes, flagrada nesta segunda-feira (15). A usina São José S/A de Açúcar e Álcool declara que as insinuações de responsabilidade sobre a empresa são precoces (leia a nota na íntegra mais abaixo). José Veronés, conhecido como Paraná, é pescador profissional há mais de 30 anos descreve o que sente diante da situação no Tanquã: ‘É uma catástrofe, uma calamidade acontecer uma coisa dessa. Em 30 anos, nunca vi uma mortandade desse jeito”, lamentou. ‘É muito chocante’, lamenta o Veronés. “Isso daqui vai fazer falta para todo pescador que vive da pesca. Para recuperar isso vai demorar uns dez anos ou mais até. E o pescador, que sobrevive e trata a família com a pesca, como vai ficar?”, se pergunta apontando para as centenas de peixes sem vida, boiando sobre as águas do Tanquã. O período de estiagem, com nível da bacia hidrográfica menor, aponta o professor, aumenta as dificuldades para que o rio se recupere dos impactos causados pelos poluentes. “Diferentes fatores se conjugaram para chegar na situação caótica que chegamos. Em um momento de seca, o Tanquã, por ser uma área alagada artificialmente, se tornou um lado estagnado que não está recebendo água nova e aquela que chega vem com baixo oxigênio e alta carga poluidora, uma vez que renovação [de água] é menor”, explica. ‘Nunca via mortandade assim em 30 anos’, diz José Veronés, conhecido como Paraná. — Foto: Edijan Del Santo/EPTV O pescador lembra ainda que neste ano que a Piracema já acabou neste ano. O que torna o cenário ainda mais agravante. O pescador Bruno Zacarias observou o impacto imediato que o resíduo industrial provoca à vida aquática do Tanquã. “É uma cena muito triste, ainda mais para gente que depende do peixe para sobreviver. E vem matando, acabando com tudo desde que o veneno vem descendo”, descreveu. O pescador Everton Chagas listou algumas das espécies encontradas sem vida sobre as águas nos canais da região alagada do Tanquã. “Tem pacu, dourado, jurupecê, mandi. É muito peixe. Corta o coração de ver”, declarou o pescador. Bruno Zacarias é pescador no Tanquã na região de Piracicaba e lamenta a mortandade de peixes. — Foto: Edijan Del Santo/EPTV O que diz a Usina São José A Usina São José S/A Açúcar e Álcool afirmou em nota que não é responsável pelos lançamentos. “Após cinco inspeções realizadas por técnicos da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB) nas dependências da Usina São José S/A Açúcar e Álcool, nada foi informado à empresa formalmente que explique o motivo ou a origem da mortalidade de peixes registrada nos últimos dias. Insinuações de envolvimento da usina nessa ocorrência são precoces e não tem, até agora, qualquer comprovação ou fundamento. A empresa considera precipitadas as notícias divulgadas nos últimos dias, citando poluentes que teriam sido liberados no Ribeirão Tijuco Preto e chegado ao Rio Piracicaba, a 42 quilômetros de distância. Lembra ainda que diversos incidentes envolvendo morte de peixes no Rio Piracicaba vem ocorrendo nos últimos anos, período este que a Usina São José estava inativa, tendo retomado suas atividades somente em maio deste ano. A empresa esclarece que não poupa esforços para colaborar plenamente com a Cetesb, a Polícia Ambiental e o Ministério Público, fornecendo todas as informações e acessos solicitados para garantir uma investigação transparente e justa, que leve às causas desse incidente”, conclui. Cetesb e MP apuram A Prefeitura de Piracicaba afirmou, na última quarta-feira (10), que acionou o Ministério Público (MP-SP) para investigar a mortandade dos peixes. Segundo a Cetesb, as mortes ocorreram após despejo irregular de resíduos agroindustriais pela Usina São José, em Rio das Pedras (SP). A companhia também investiga o caso e adiantou que, pelo crime ambiental, é prevista multa no valor de até R$ 50 milhões aos responsáveis. Tanquã, em Piracicaba, registra mortandade de peixes — Foto: Edijan Del Santo/EPTV Inspeção “[…] Esquipes fizeram a medição de oxigênio (OD) no rio Piracicaba, na altura do Bairro de Tanquã e constataram baixo nível de oxigênio dissolvido, o que evidencia que a mancha de efluentes, lançada pela Usina São José S/A Açúcar e Álcool na semana passada, chegou a essa localidade e provocou a mortandade de peixes. Ontem, dia 15 de julho, foi feita nova inspeção e medição de OD, no rio do Pinga, e constatou-se que a mancha de efluentes também chegou ao local”, comunicou a nota. Everton Chagas é pescador na região do Tanquã e lista as espécies de peixes encontradas mortas após despejo irregular no Rio Piracicaba — Foto: Edijan Del Santo/EPTV Minipantanal paulista O Tanquã é conhecido como o mini pantanal paulista, devido à semelhança com o ecossistema do Centro-Oeste brasileiro. O local abriga diferentes espécies da fauna e da flora, algumas em risco de extinção. Foram registradas pelo menos 400 espécies diferentes de aves no local. O surgimento do mini pantanal ocorreu nos anos 60, quando a usina hidrelétrica Barra Bonita foi construída na foz do rio Piracicaba e os últimos quilômetros do rio acabaram adentrando as margens, formando uma área de remanso, com águas lentas. Mortandade de peixes chega ao Tanquã, em Piracicaba — Foto: Edijan Del Santo/EPTV VÍDEOS: Tudo sobre Piracicaba e Região
Totalmente comprometidas’, diz pesquisador sobre fauna e flora de rio contaminado no minipantanal paulista
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