Lar Cidades Região de Piracicaba tem média de duas internações causadas por abortos por dia: ‘questão de saúde pública’, diz médico

Região de Piracicaba tem média de duas internações causadas por abortos por dia: ‘questão de saúde pública’, diz médico

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Os indicadores do SUS apontam a morbidade por conta de abortos, ou seja, os casos que geraram alguma internação por essa causa. Foram 733 no ano passado na região, sendo a maior parte (321) em Piracicaba. Internações por abortos espontâneos são as que acontecem por conta da interrupção da gravidez de forma involuntária, geralmente envolvendo problemas no desenvolvimento do feto. Já os abortos por questões médicas envolvem problemas como gestação fora do útero, que acontece nas trompas, casos de má formação da placenta e também pode incluir abortos ilegais. O mesmo acontece com o indicador de outras gravidezes que terminam em aborto, que também pode incluir casos ilegais e outras causas, segundo o professor da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, José Paulo de Siqueira Guida. “A gente não consegue identificar quais abortos que chegam pro atendimento que tenham iniciado de forma insegura ou ilegal”, argumenta. Veja no gráfico a quantidade separada por tipo👇 Risco à vida Os números evidenciam que o aborto é uma questão de saúde pública na região, assim como no restante do país, segundo o professor da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, José Paulo de Siqueira Guida. Isso porque, mesmo nos casos em que o aborto é legalizado, as mulheres enfrentam uma série de situações que dificultam o acesso previsto em lei, o que faz com que busquem vias clandestinas e inseguras. “Com certeza é uma questão de saúde pública. Provavelmente a maior parte dos abortos que necessita de internação, são abortos que se iniciaram de forma insegura. É uma hipótese que a gente tem”, argumenta. Segundo ele, em muitos dos casos a mulher vai buscar atendimento quando apresenta alguma hemorragia ou sinal de infecção. “E isso faz com que ela chegue com uma necessidade de um cuidado extra, de um cuidado adicional, em uma condição de maior risco pra sua vida.” Leito de hospital vazio — Foto: Reprodução/RBS TV A demora na chegada ao hospital por conta do procedimento ser feito de forma clandestina funciona como uma barreira no acesso adequado à saúde, completa o professor. “As mulheres vão continuar abortando, independente do que a lei fale. A mulher que se encontra em uma situação de uma gestação decorrente de violência ou de uma gestação inviável para ela naquele momento, uma mulher de grande vulnerabilidade, se ela decide abortar, ela vai abortar. Esse é um dado da realidade. O que a gente tem que ver é como o estado vai reagir a isso.” O professor acrescenta que, se o estado pune as mulheres, o risco de morte por conta desses procedimentos clandestinos é maior. “E quem morre é mulher pobre e mulher muito jovem, que não tem acesso ao aborto seguro.” “Por outro lado, se a gente oferta aborto seguro, aborto feito em ambiente hospitalar, de forma vigiada, essas mulheres provavelmente, ao final disso, vão sair vivas”, completa. Dificuldade no acesso ao aborto legal Atualmente, o aborto é permitido em três situações no Brasil: se o feto for anencéfalo, se a gravidez impuser risco de vida para a mãe ou se a gravidez for fruto de estupro Para os casos de gravidez decorrente de violência sexual, não é preciso apresentar Boletim de Ocorrência ou algum exame que ateste o crime, como um laudo do Instituto Médico Legal (IML). Para o atendimento, basta o relato da vítima à equipe médica. Porém, o assunto ganhou repercussão nas últimas semanas por conta do Projeto de Lei 1904/2024, que criminaliza o aborto após 22 semanas, mesmo em casos previstos por lei, e equipara ao crime de homicídio. Segundo Dr. José Paulo, um dos problemas enfrentados por pessoas que procuram o aborto dentro do previsto em lei é o acesso ao serviço. “Em menos de 4% das cidades, a gente tem serviços que façam aborto legal dentro dos permissivos que a lei autoriza. Então, a maior parte da população não tem acesso a serviços desse tipo e, com isso, as pessoas acabam buscando soluções clandestinas”, argumenta. No entanto, a falta de protocolos nacionais no atendimento em alguns casos gera mais um obstáculo. Segundo o médico, alguns dos serviços colocam uma série de dificuldades e condições para que o aborto legal aconteça. “A maioria das mulheres acaba tendo que ser revitimizada, tem que buscar provar essas informações que ela traz ou, então, encontra barreiras como a idade gestacional para o acesso, o que não está colocado na lei ou, ainda, elas precisam trazer meios de prova em relação ao que aconteceu ou uma autorização da justiça”, completou. VÍDEOS: Tudo sobre Piracicaba e região

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