Consultada pela EPTV, afiliada da Globo para Piracicaba e região, a especialista em educação, Ângela Soligo, ressalta que a escola pode ser produtora de violências a depender da forma como lida com situações de conflito. “Muitas vezes, a própria escola é produtora de violências quando não questiona e/ou se omite às denúncias, por exemplo. Quando acontece uma violência extrema, a escola reage, às vezes punindo ou chamando os atores da violência para o diálogo. Mas, não trabalha nisso todos os dias”, alerta a especialista. Em caso mais recente, publicado pelo g1, registrado em Limeira, uma estudante de 14 anos foi agredida nesta quarta-feira (12), em frente a uma escola estadual da cidade pelo pai de outra aluna. Um vídeo mostra o homem batendo na menor com um capacete. Ela chegou a desmaiar e precisou ser socorrida pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). O agressor deve responder em liberdade. – Veja mais detalhes ao final da reportagem. A rede estadual de ensino de Piracicaba (SP) registrou 817 casos de violência no ambiente escolar em 2022. O número passou para 1194 em 2023, um aumento de mais de 46% no período. Em Limeira, o cenário, diante dos dados, ainda é mais grave. Entre as escolas estaduais da cidade, foram 881 ocorrências em 2022 e 1350 no ano seguinte, um crescimento de 53,2%. De acordo com a profissional, é preciso ações constantes e efetivas de diálogo, acolhimento, correções e de reconhecimento diante de situações de conflito nas escolas podem transformar o ambiente de ensino. Transferência de unidade 🏫 Conforme comenta a profissional, há situações em que, para solucionar conflitos, a escola transfere a vítima para outra unidade. “Transferir o aluno que sofreu a agressão, é agredi-lo de novo e premiar o aluno violento. Pode ser que ele [a vítima] tenha que ir para uma escola mais distante, por exemplo. É preciso colocar toda a escola em diálogo para lidar com a situação de violência. É possível existir uma escola acolhedora, que enfrente essas violências, é possível transformar e há muitas experiências que mostram isso”, completa. Medo de voltar para escola A estudante de 14 anos agredida pelo pai da colega de escola na quarta-feira (12), em Limeira (SP), disse que acordou nesta quinta-feira (13) com muita dor e medo. – Assista no vídeo, abaixo. “Estou com medo de voltar para a escola, com medo de ficar na rua. Porque vai que acontece alguma coisa, eu tenho medo dele vir atrás de mim e querer me agredir de novo”, diz a adolescente. Homem que agrediu adolescente em frente a escola estadual de Limeira é identificado O motivo da briga entre as alunas do 6º e 7º ano da Escola Estadual Luigino Burigotto, na Vila Labaki, teria sido ciúmes. A vítima da agressão conta que a confusão começou após ela ter elogiado os olhos do menino que a filha do agressor, uma menina de 11 anos, gostava. “Ela não gostou disso, quis partir pra agressão e eu só fui me defender”, diz a adolescente de 14 anos. As ameaças teria começado dentro da escola. Após o horário de aula, por volta do 12h30, as duas começaram a brigar em frente à instituição de ensino. “Eu e ela caímos no chão, começamos a brigar. O pai dela chegou na hora e começou a me dar chute, capacetada”, conta. A adolescente chegou a desmaiar por conta das pancadas na cabeça e nas costas e foi atendida pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). “Eu fui sentindo tontura e fraqueza. Nisso, eu caí no chão. Ele dava [capacetadas] com força mesmo”, lembra. Vídeo O vídeo mostra que o homem continua a insultar e ameaçar a vítima mesmo após o desmaio. Ela teve alta médica no mesmo dia e nesta quinta-feira passou pelo exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal de Limeira, onde concedeu entrevista à EPTV, afiliada da TV Globo no interior. Ela estava com diversos hematomas. O caso foi registrado como lesão corporal no 3º Distrito Policial de Limeira. Estudante de 14 anos é agredida por pai de outra aluna em Limeira Vídeo mostra agressões Um vídeo mostra o homem batendo na menor com um capacete (assista acima). Ela chegou a desmaiar e precisou ser socorrida. As imagens mostram quando o homem agride a menor com um capacete repetidas vezes e ela cai no chão. Outros alunos incentivam a briga e uma pessoa tenta ajudar. Ele também chuta a adolescente. A menina se levanta, anda alguns metros e depois cai no chão, desmaiada De acordo com o investigador Luiz Sergio Antunes, o suspeito fugiu do local após as agressões. Adolescente de 14 anos foi agredida pelo pai de outra aluna em escola de Limeira — Foto: Reprodução/EPTV Pai diz estar arrependido O autor das agressões, que tem 36 anos, se apresentou na tarde desta quinta-feira (13) para prestar depoimento à Polícia Civil. À EPTV, afiliada da TV Globo, ele afirmou que sua filha vinha sofrendo ameaças e estava sendo agredida pela outra aluna, que é mais velha que ela, quando ele decidiu intervir. “Eu sei que eu fui errado, eu admito que eu fui errado, mas na hora a reação a gente fica cego, né? Na hora o sangue sobe, aí a gente não pensa. Aí, vai pensar depois que a burrada foi feita”, afirmou. Ele afirmou que não ficou no local depois de realizar as agressões porque estava sendo ameaçado. Além disso, disse que na manhã desta quinta-feira foi agredido por um tio da vítima. “Desceu do carro já agressivo aí deu dois socos”. O pai, que afirmou que não sabe o motivo do desentendimento entre as estudantes, ainda afirmou que está arrependido e pediu desculpas à família da vítima. “Demais, demais. Eu queria pedir desculpa, perdão, porque eu sei que eu fui errado, né? Porque isso daí não deve ser feito”. Ele vai responder em liberdade por ameaça e lesão corporal. O que diz a Secretaria de Educação A Diretoria de Ensino de Limeira comunicou que a gestão acionou o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e os responsáveis pelas estudantes após o ocorrido e que uma das estudantes será transferida de unidade à pedido. Um profissional do programa Psicólogo nas Escolas também está disponível para atender os estudantes, mediante autorização dos responsáveis. “A Secretaria de Educação de SP trabalha ativamente na promoção de atividades para prevenir e mitigar conflitos, além de ampliar a segurança dos alunos por meio do Programa de Melhoria da Convivência e Proteção Escolar (Conviva) e dos 667 psicólogos”, acrescentou. A pasta ainda informou investe na capacitação e formação dos professores para que possam lidar com as demandas socioemocionais dos alunos e também tem suporte de órgãos de proteção às crianças e adolescentes, como Conselho Tutelar, equipamentos de saúde e segurança pública. VÍDEOS: Tudo sobre Piracicaba e região
Escola é produtora de violências quando se omite às denúncias e agressões, alerta especialista
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