1º a escalar Everest 3 vezes, palestrante e escritor: quem era o brasileiro morto em acidente com parapente no Paquistão

1º a escalar Everest 3 vezes, palestrante e escritor: quem era o brasileiro morto em acidente com parapente no Paquistão

Morador de São Pedro, no interior de SP, Raineri era conhecido pela prática do montanhismo, além do parapente, principalmente por suas expedições ao Everest. Em um perfil com 11 mil seguidores no Instagram, ele costumava postar nas redes sociais a rotina nos esportes de aventura. Raineri compartilhava fotos e vídeos dos saltos e escaladas, além de se descrever como apaixonado por viagens, natureza e tecnologia. O atleta integrava um grupo de sete pessoas que seguiam para o acampamento base do K2, mas foi o único que decidiu praticar parapente. O paraquedas teria se rompido, o que causou a queda, informou à Agence France-Presse (AFP) o porta-voz da polícia local, Muhammad Nazir, de Shigar, área do acidente. Há três dias, ele postou um vídeo de outro voo também no Paquistão e disse que o K2 era o próximo destino do grupo. Rodrigo nasceu em Ibitinga (SP). Ele deixa esposa e um filho de 22 anos. Rodrigo Ranieri, de 55 anos, morreu em acidente com parapente no Paquistão — Foto: Reprodução/Instagram Escalador completo Rodrigo Raineri era considerado um escalador “completo” e estava entre os alpinistas mais técnicos do Brasil, com experiência de mais de 30 anos e atuação em rocha, gelo e alta montanha, como é descrito no site profissional do atleta. Ele liderou centenas de expedições pelo mundo. Foi o primeiro brasileiro a escalar três vezes o Monte Everest. Raineri se tornou o único brasileiro a guiar expedições aos sete Cumes, projeto que abrange escalar as mais altas montanhas de cada continente em 2016. Completou a 6ª expedição à montanha mais alta do planeta, em 2019, com mais de 8,8 mil metros de altitude. Na companhia de Vitor Negrete, formou a única dupla brasileira a escalar a Face Sul do Aconcágua, topo mais alto das Américas, a 6.962 metros de altitude, com subida considerada uma das difíceis do mundo. A conquista é um marco no montanhismo brasileiro. Rodrigo Raineri, em escalada no Aconcágua (Argentina) — Foto: arquivo pessoal Com o parceiro, também escalou o Aconcágua durante inverno de -30ºC. Durante a subida, enfrentaram uma tempestade de neve. Em 2013, realizou uma de suas expedições ao topo da maior montanha do mundo, o Everest, na Ásia. Foram 67 dias de expedição. Utilizou uma máscara de oxigênio durante a subida. A temperatura chegou a -29ºC, com sensação térmica de -50ºC. “Chegar no cume do Everest é sempre uma sensação indescritível, muito bom. Eu acho que a gente buscando grandes conquistas, realização de sonhos, a gente tem mais motivação para viver”, comentou Rodrigo à época. Alpinista Rodrigo Raineri, em 2013, após chegar de expedição ao Aconcágua — Foto: Reprodução EPTV Escritor, palestrante e consultor Formado em Engenharia de Computação pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Raineri também era diretor de uma empresa de turismo, além de palestrante e consultor. O atleta somava mais de 1,8 mil palestras sobre temas motivacionais, além de áreas como segurança do trabalho, cultura e educação. Ainda ministrava cursos de escalada e resgate, dos básicos aos mais avançados, liderou mais de uma centena de expedições no mundo todo. Rodrigo assina os livros “No Teto do Mundo” e “Imagens do Teto do Mundo”. Em 2015, organizou uma campanha de doações de roupas e alimentos para ajudar vítimas de um terremoto no Nepal, que deixou mais de 5 mil mortos. Naquela época, o montanhista brasileiro já tinha viajado mais de 15 vezes para o país. Rodrigo e Vitor Negrete durante subida no Aconcágua — Foto: AcervoEP Esposa soube da morte pelo WhatsApp Talita Campos Camargo, esposa do alpinista, contou que ele foi para a viagem em 15 de junho e voltaria em 31 de julho. Eles se falaram pela última vez por volta de 15h de quarta-feira (4), e costumavam conversar todos os dias. “Toda hora, sempre que tinha conexão. Da ultima vez que a gente se falou, ele disse que iria dormir na montanha e que faria uma caminhada de cinco dias até chegar no Glaciar Baltoro [um glaciar na cordilheira Caracórum], mas acredito que ele não conseguiu chegar.” Ela recebeu a notícia durante a madrugada, por meio do guia que acompanhava o grupo. “Eu estava dormindo quando meu celular tocou e era um número do Paquistão. Eu sempre esperava mensagens ou ligação dele, mas não era ele”, relatou. Talita disse que o guia deu a notícia em inglês, o que dificultou a comunicação, mas ela entendeu que o marido estava em um hospital. Esposa de parapentista morto no Paquistão disse marido queria chegar ao Glaciar Baltoro “Ele falou algumas coisas, eu não entendi e, então, pedi que ele me chamasse no WhatsApp para que a gente pudesse conversar melhor. Aí ele me falou que o Rodrigo tinha sofrido um acidente na montanha e que tinha falecido, que estava no hospital militar aguardando a liberação do corpo.” Segundo o guia, o corpo de Rodrigo foi levado para o hospital militar da cidade paquistanesa de Skardu. A família afirma que tentou contato com o consulado para a liberação do corpo e aguardava resposta até esta publicação. “Tem várias pessoas mobilizadas para falar com o consulado. Ainda não conseguimos.” Rodrigo e equipe durante subida no Everest — Foto: AcervoEP Entusiasta do montanhismo A primeira mulher negra latino-americana a chegar ao topo do Monte Everest, Aretha Duarte, lamentou o ocorrido e afirmou que Rodrigo foi um dos responsáveis por promover o montanhismo no Brasil. “Ele realmente sempre foi muito entusiasta, apaixonado pela prática da escalada, sempre incentivou, sempre fez questão de fazer essa atividade crescer, ser desenvolvida aqui no nosso país.” Aretha ressaltou que Rodrigo sempre se preocupou com a segurança. “Ele sempre foi muito focado na questão da segurança dessa prática, sempre foi muito técnico, tinha como premissa a segurança da prática de escalada, isso é indiscutível”, completou. “Quando a gente recebe uma notícia como essa, de que ele faleceu diante de um acidente que aconteceu lá, realmente a gente fica chateadíssima, porque a segurança era premissa para ele.” “Todo o corpo de montanhistas do Brasil com certeza está lamentando nesse momento, porque é uma pessoa que atua nesse segmento desde o início da atividade aqui no país”, completou. Rodrigo Raineri, que morreu em salto de parapente no Paquistão — Foto: Reprodução/EPTV Unicamp lamenta Em nota, a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde Rodrigo se formou, lamentou o acidente. Ele ingressou no curso de Engenharia de Computação em 1988. Foi membro de um grupo de universitários praticantes de atividades de aventura. “Em 1991, junto a Tomás Gridi Papp e outros praticantes, Rodrigo Raineri mobilizou a criação da parede de escalada em parceria com a Faculdade de Educação Física – FEF”, comunicou a instituição, em nota. “Tal criação levou à formalização do Grupo de Escalada Esportiva e Montanhismo da Unicamp (Geeu) em 1994, que permanece existindo até os dias atuais, promovendo a escalada entre praticantes e iniciantes, tanto para a comunidade acadêmica quanto para a comunidade externa”, completou. Ainda segundo a Unicamp, na década de 90 Raineri iniciou uma parceria expedições e conquistas no montanhismo junto a Vitor Negrete. Vitor morreu em um acidente no Everest em 2006, e seu nome batiza a parede de escalada presente na FEF. “Rodrigo era conhecido por suas expedições ao Everest, tendo alcançado o topo três vezes, uma façanha rara que consolidou seu nome na história do alpinismo brasileiro.” “A Faculdade de Educação Física da Unicamp envia suas condolências aos familiares e amigos de Rodrigo Raineri.” A Secretaria de Turismo de São Pedro, onde Rodrigo morava, também lamentou o acidente. “Perdemos um grande atleta, um empresário à frente de seu tempo e um grande amigo e parceiro.” VÍDEOS: Tudo sobre Piracicaba e região

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